luisa benevides
luisa benevides
“Sempre tive dificuldade em dizer quem sou. Para cada situação, há de se pensar bastante, escolher o que mostrar, enfatizar alguns pontos, omitir outros. De uma escolha mais ou menos arbitrária, há de surgir uma linha contínua, uma cronologia de eventos sem a sombra de outros por detrás. A linha se cristaliza através das palavras, enquanto eu… talvez eu seja o oposto: nada além de movimento.
Mas já que se tem de começar, inicio pelo que tenho de menos etéreo: a paixão pela leitura. A coisa começou de criança, se solidificou com Bisa Bia Bisa Bel, de Ana Maria Machado, e já adolescente se desdobrou em vício pela escrita. Por volta dos vinte, conciliando o hábito de escrever com os estudos em psicologia, lancei meus primeiros textos: tive contos publicados nas antologias O outro lado do sol (org. Leonardo Vieira de Almeida, Ibis Libris, 2008) e Mapas Literários: o Rio em histórias (org. Ninfa Parreiras, Rovelle, 2015; livro selecionado para o Catálogo FNLIJ da Feira de Bolonha de 2016), além de poemas na antologia Miudezas (org. Ninfa Parreiras, Cartonera Carioca, 2016).
Tive também textos publicados nas revistas Philos e Gueto, além de contos vencedores em concursos literários (veja mais em notícias). De 2013 a 2018, mantive o blog Escrita Andarilha (http://escritaandarilha.blogspot.com), onde reunia escritos diversos e dispersos.
Já psicóloga (UFRJ, 2009), fiz uma especialização em Psicologia Clínica com Crianças (PUC-Rio, 2011) e logo depois fui para a França fazer um mestrado em filosofia (Université de Toulouse - Jean Jaurès, 2012). Eu procurava conciliar meus lados escritora e psicóloga trazendo a literatura para meus estudos: tanto na monografia de graduação quanto na dissertação de mestrado, procurei refletir sobre as relações entre loucura e escrita, através de pensadores como Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel Foucault. Aliás, o contato com a loucura, iniciado em estágios em saúde mental ainda na graduação, se desdobrou depois de formada: de 2010 a 2013 (com a pausa para o mestrado na França), fui acompanhante terapêutica de portadores de transtornos psiquiátricos.
Já de volta ao Brasil, comecei a trabalhar como educadora infantil e mediadora escolar. Meu contato com os livros ilustrados, adormecido desde a infância, se renovou através da escola onde trabalhava. O fascínio foi tanto que passei a frequentar oficinas de escrita e cursos voltados para literatura infantil e juvenil. Fiz oficinas com es escritores Márcio Vassallo, Marina Colasanti, Ninfa Parreiras, além de um curso de ilustração com o ilustrador Renato Alarcão. Fiz também cursos com escritores e estudioses como Carola Saavedra, Rubens Figueiredo, Rosana Kohl Bines e Mario Bruno.
Em 2014, fui convidada como autora para a Feira de Bolonha e, na mesma viagem, fiz a leitura de obras literárias brasileiras em bibliotecas e livrarias em Florença. Entre 2015 e 2017, eclodiram diversas oportunidades de trabalho em eventos literários: trabalhei na coordenação de espaços de leitura no Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens; na recepção e assistência à curadoria na Festa Literária de Santa Teresa (FLIST - CEAT); na produção e mediação de encontros literários diversos (veja mais em eventos). Trabalhei na Fundação Lygia Bojunga, realizando visitas guiadas à Fundação, fui consultora do Conselho da Associação Cultural Bartolomeu Campos de Queiroz e colunista do Carrossel, coluna de livros ilustrados no site Boletim Leituras. Participei da leitura e produção de saraus (dentre eles, saraus promovidos pela Editora Lago de Histórias), fui produtora do selo Cartonera Carioca da escritora Ninfa Parreiras e mediei oficinas de escrita literária. Hoje vejo que esses trabalhos me foram fundamentais: além de me aprofundar na obra de inúmeres autores, me inteirei sobre diversas discussões do mundo literário, conheci muites escritores e profissionais do ramo e escutei muita gente boa falar de livros, de escrita, de literatura.
Paralelo ao boom de eventos literários, meu trabalho em psicologia continuava: além do consultório, em 2016 comecei a atuar como psicóloga na ONG Casa da Árvore (Projeto de atenção à infância e aos seus cuidadores em favelas do Rio de Janeiro), onde permaneço até os dias atuais.
Em 2017, minha vida deu uma cambalhota: me tornei mãe. No auge do puerpério e momentaneamente de férias de todo esse auê literário, a escrita me pegou pelas mãos e, sem que eu me desse conta, comecei a escrever poemas inspirados na minha tão recente e ainda obscura condição materna. Os versos foram ganhando corpo até se materializarem no meu primeiro livro, azul de um minuto: poemas entre mãe e filho, feito de forma artesanal e independente (veja mais em azul de um minuto).
A partir de então, o livro foi se espalhando no boca-a-boca (já estamos na terceira reimpressão!), fui convidada para feiras e eventos literários, comecei a mediar oficinas sobre livro artesanal e costura de livros, e também a oferecer consultorias literárias e gráficas. Em 2020, tomei um grande fôlego e, em meio à pandemia, iniciei o doutorado em Letras na UERJ. Sempre na interface entre literatura e clínica, tenho buscado pensar na literatura enquanto ferramenta para refletir, desconstruir e construir a mulher que sou, que somos. Como desdobramento de meus estudos, comecei a mediar oficinas de escrita entre mulheres, na aposta de que a experiência literária, tanto de leitura quanto de escrita, seja capaz de escancarar modos de opressão e de liberar novos modos de existência.
Termino essa biografia por aqui, já alertando a quem me lê: ela sempre estará desatualizada, em parte porque sou aquariana, avoada e me gosto assim; em parte porque, como já disse, somos todes puro movimento. Como pôr um ponto final numa vida que se vai, que surpreende e que só se apreende quando já se é outra coisa?”